Shogun Inu-Kubō
Até a segunda metade do século XIX, o Japão mergulhou num longo período, marcado pelo domínio dos samurais, com o shogun à frente do governo. Principalmente nos 265 anos do shogunato Tokugawa, período em que floresceu uma cultura tipicamente nacional, o país se isolou completamente do mundo.
Nos anais da história japonesa, um nome se destaca por seu legado único e inesperado Tokugawa Tsunayoshi, o shogun dos Cães, o quinto de sua dinastia.
Ao contrário de seus antecessores, o reinado foi marcado não apenas pela habilidade política e militar, mas também por uma devoção extraordinária ao melhor amigo do homem. Esse aspecto não convencional de seu governo deixou uma marca indelével na história japonesa.
Os Editos da Compaixão
O respeito de Tsunayoshi pelos cães atingiu seu ápice com a promulgação dos Editos da Compaixão, uma série de leis destinadas a proteger e cuidar desses animais. Emitidos no início do século XVIII, eles refletiam a profunda empatia do shogun por todas as criaturas vivas, especialmente os cães. Eles também protegiam humanos comuns, que até então poderiam ser mortos por um samurai sem qualquer explicação.
Um dos poucos estrangeiros com permissão de permanecer no pais, para estudos, comenta:
“Sob o governo do atual shogun, há mais cães neste país do que em qualquer outro lugar. Cães sem dono ficam pelas ruas, causando grandes obstruções aos transeuntes. Os cidadãos de cada rua têm que manter e alimentar um certo número deles. Quando estão doentes, têm que ser cuidados em uma cabana erguida em cada rua, e quando morrem, têm que ser levados a uma montanha e enterrados como humanos”.
Sob essas leis, prejudicar um cão, intencionalmente ou não, era severamente punido. Os infratores enfrentavam multas, prisão ou, até mesmo, execução, dependendo do delito. Os editos se estendiam não apenas aos plebeus, mas também à classe samurai, enfatizando o compromisso do shogun com o bem-estar dos cães em todas as camadas sociais.
Outro estrangeiro relata:
“Há cerca de oito dias, nossos acompanhantes e criados trouxeram um homem de Nagasaki, um empregado contratado, para ter sua ferida tratada, pois havia sido atacado repentinamente por um grande cão de rua, e sua panturrilha fora mordida gravemente.
Quando perguntamos a ele se havia se vingado do cão, respondeu: ‘Você acha que eu vou arriscar minha vida?’ Ninguém tem permissão para matar uma galinha ou um galo domesticado…”
Santuários e Cemitérios de Cães
Nos seu compromisso com o bem-estar canino, Tsunayoshi estabeleceu santuários e cemitérios de cães em toda Edo. Os cemitérios, adornados com lápides elaboradas e memoriais, refletiam a crença do shogun na importância espiritual dos cães, mas já existiam antes do seu tempo. Esses espaços eram dedicados ao cuidado, reabilitação e descanso eterno dos cães.
Legado e Impacto
Apesar do ceticismo inicial e críticas de alguns setores, o reinado de Tsunayoshi deixou um legado duradouro. Enquanto os historiadores debatem as verdadeiras motivações por trás de seu extraordinário afeto por cães, que vão desde a empatia pessoal, razões higiênicas e até a estratégia política, não se pode negar o impacto duradouro de seus Editos da Compaixão.
Tsunayoshi foi um reformador que reduziu privilégios obsoletos da classe samurai em uma sociedade cada vez mais urbanizada. Ele não era nem um sonhador nem um fanático protetor dos animais, mas um estudioso politicamente inclinado.
Leis para a proteção de animais já haviam sido promulgadas antes de seu governo. Das mais de 600 leis que ele emitiu, apenas cerca de 10% diziam respeito aos animais.Ele também não era um entusiasta de cães; ele próprio não tinha cães. Finalmente, não era supersticioso; não há prova alguma de que seu nascimento no Ano do Cão tenha desempenhado um papel importante para ele.
Foi no seu shogunato que ocorreu o incidente dos 47 ronins, na figura acima atacando a casa do assassino de seu daymio
Leis para a proteção de animais já haviam sido promulgadas antes de seu governo. Das mais de 600 leis que ele emitiu, apenas cerca de 10% diziam respeito aos animais.
Ele também não era um entusiasta de cães; ele próprio não tinha cães. Finalmente, não era supersticioso; não há prova alguma de que seu nascimento no Ano do Cão tenha desempenhado um papel importante para ele. Após sua morte, o próximo shogun, Ienobu, não revogou completamente essas leis, apenas os decretos relativos à proteção de cães que se mostraram impraticáveis.
O governo de Tsunayoshi desafia noções tradicionais de liderança e revela um lado complexo e compassivo de uma figura histórica frequentemente ofuscada por suas realizações militares. Entretanto, é preciso considerar queTsunayoshi presidiu um dos períodos mais prósperos e pacíficos da história japonesa. Suas principais realizações foram em assuntos culturais, nos quais trabalhou para promover o neoconfucionismo do estudioso chinês do século XII Chu Hsi, cuja filosofia enfatizava a lealdade ao governo como o primeiro dever do homem.
Os criadores de cães japoneses admiram esse Shogum