Raposa é um animal selvagem
Raposas são selvagens.
Tanto assim que, nas fazendas de criação de animais para produção de peles, na Sibéria, os funcionários trabalhavam com luvas forradas com telas metálicas, para evitar acidentes.
Na Sibéria, Rússia, havia fazendas de criação de raposas e mink, para produção de suas valiosas peles. Dmitri Belyaev, um geneticista, que gerenciava uma dessas fazendas, posteriormente apoiado por outra cientista Lyudmila, iniciou um experimento por volta de 1950, de modo informal, para domesticação de raposas, aproveitando a estrutura da fazenda. Esse experimento obteve sucesso em 1975, com a conquista da raposa Pushinka, absolutamente domesticada, e seus filhos. Os estudos continuam até o presente.
A hipótese era que a domesticação envolvia a redução da agressão e o aumento da tolerância social, semelhante ao que teria acontecido com os humanos.
O experimento envolveu cruzar mais de 40 gerações de raposas dóceis e agressivas. Mas obteve sucesso, ou seja, reproduziram um processo que, com o Lobo Cinzento, demorou dezenas de milhares de anos em algumas décadas.
Raposa com DNA alterado
Tratando-se de um experimento fundamentado na seleção natural, ao conhecer a história, através do livro acima, imaginei que as alteração eram exclusivamente epigenéticas, sem alteração dos genes, apenas de sua manifestação. Entretanto, embora o cruzamento das raposas menos agressivas tenha resultado em uma alteração do comportamento, ela também implicou em efetiva mudança genética, como atualmente se verifica.
Genes Envolvidos:
A geneticista evolucionária Anna Kukekova e sua equipe identificaram genes importantes no processo de domesticação das raposas. Um desses genes é o SorCS1, associado ao aprendizado e à memória.
O SorCS1 é um gene que ajuda proteínas de transporte envolvidas na sinalização no sistema nervoso (receptores de glutamato AMPA) e na formação de sinapses (via proteínas pré-sinápticas chamadas de neurexinas), ajudando portanto na formação de memórias e no aprendizado. Analisando esse gene em quase 1600 raposas agressivas e mansas, durante 6 anos, os pesquisadores consistentemente mostraram que o comportamento delas estava ligado a variações no SorCS1.
A maioria das raposas mansas carregavam a mesma variação desse gene, com algumas exceções que ainda mantinham as versões ligadas às raposas mais agressivas. Isso sugere que durante o processo de domesticação, seus genes mudaram de forma a otimizar a memória e o aprendizado.
Veja que a mera seleção natural alterou o DNA original das raposas selvagens.
Lyudmila passeando com duas raposas domesticadas
Hoje, por alguns milhares de dólares, é possível comprar raposas domesticadas, embora sua posse não seja permitida, em alguns países.
COMO DOMESTICAR UMA RAPOSA
E CONSTRUIR UM CÃO
Esse é o nome do livro que descreve, minuciosamente, todos os eventos que conduziram ao sucesso do empreendimento e suas consequências para a Ciência, em geral.
No Prefácio, podemos ler: “Por que uma raposa não pode ser como um cão?
Suponha que você quer construir o cão perfeito do nada. Quais seriam os ingredientes na receita? Lealdade e inteligência seriam impositivos. Fofura também, talvez com olhos gentis, e uma cauda enrolada e peluda que abana em alegria apenas na expectativa de seu aparecimento. E você pode jogar em um pelo manchado parecido com um vira-lata que parece gritar “Eu posso não ser bonito, mas você sabe que eu te amo”
A questão é que você não precisa se preocupar em construir isso. Lyudmila Trut, uma das autoras do livro How to Tame a Fox, e Dmitri Belyaev já o construíram para você. O cão perfeito. Exceto que não é um cão, é uma raposa.
ENGENHARIA GENÉTICA
Ao ver as possibilidades em de alteração de um animal, de forma tão intensa, em tão pouco tempo, fico pensando na necessidade de perfilar com a NIppo e não permitir que pessoas por meros caprichos venham a conduzir os Shibas por caminhos que os façam alterar em fisiologia e temperamento, tal como já fizeram com o Akita, no Akita Americano, por exemplo.
Já convivi com raças domesticadas para companhia, como os Lhasa Apso, por exemplo, que são demasiado pasteurizados para o meu gosto. Shibas se impõem, incomodam, mas obtém admiração e respeito. Nunca vou querer trocar um Samurai por um Pajem.
Viva a Nippo.