VACINAS PARA CÃES
IMUNIDADE
Ao contrário dos seres humanos, os cães nascem com um sistema imunológico bastante imaturo e quase sem imunoglobulinas transferidas pela mãe durante a gestação. A transferência de imunoglobulinas maternas, denominada imunidade passiva, ocorre após o nascimento graças à ingestão de uma secreção mamária muito específica conhecida como colostro e produzida pela fêmea somente nas primeiras 24 horas após o parto.
Graças ao estado imaturo dos intestinos do recém-nascido, as imunoglobulinas do colostro podem ser absorvidas pela corrente sanguínea e circular por todo o organismo.
Portanto, uma ingestão adequada de colostro logo após o nascimento protege os filhotes de diversos vírus, bactérias e outros microrganismos normalmente presentes no ambiente.
Contudo, o nível de imunoglobulinas maternas, também chamadas de anticorpos maternos, declina progressivamente com a idade. Dependendo dos microrganismos, algumas semanas após o nascimento, principalmente durante o período de desmame, o filhote não se encontra mais protegido pelos anticorpos maternos; nesse caso, deve surgir uma imunização natural para produzir seus próprios anticorpos.
É dessa forma que os filhotes se tornam imunocompetentes contra a maioria dos microrganismos. Apenas no caso de microrganismos muito patogênicos (como parvovírus canino com uma mortalidade de até 50-60% no período do desmame), utiliza-se a vacina para induzir à produção de anticorpos específicos antes de uma infecção natural.
Para prevenir não só a parvovirose, mas também outras infecções altamente letais, é de suma importância seguir o protocolo de vacinação estabelecido pelo médico veterinário.
O período durante o qual a proteção materna se torna insuficiente e o mecanismo de defesa do próprio filhote ainda está subdesenvolvido é uma fase sensível ao risco de infecções, sendo conhecido como “lacuna ou janela de imunidade”.
Nesse período, deve ser tomado o maior cuidado para que o filhote não venha a se infectar. Então, dá para investir na adaptação dele com a nova família, pois não faltará oportunidade futura de socialização.
A alimentação nesse período deve incluir antioxidantes e prebióticos específicos para ajudar o filhote nesse período sensível, ao mesmo tempo em que reforça suas defesas naturais.
Prebiótico: Refere-se a substâncias que promovem o crescimento ou a atividade de microrganismos benéficos, como as bactérias intestinais. Os prebióticos são geralmente fibras alimentares que não são digeridas pelo corpo humano, mas servem de alimento para as bactérias boas no intestino.
Probiótico: Refere-se a microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro. Os probióticos são encontrados em alimentos fermentados, como iogurte, kefir e alguns tipos de queijo, bem como em suplementos alimentares.
Os processos de imunização, tanto natural como artificial (neste caso, através da vacinação), são possíveis graças ao desenvolvimento de órgãos imunológicos no cão em crescimento. Por exemplo, a medula óssea se torna mais ativa com o avanço da idade e o timo atinge seu tamanho máximo aos 6 meses de vida. Ambos os órgãos produzem ativamente os leucócitos, essenciais para a formação de anticorpos específicos.
O tecido imunológico do intestino desempenha um papel importante no processo de imunização. Em função de sua alta atividade, esse tecido aumenta consideravelmente de tamanho durante o período de desmame, época em que o organismo do filhote é exposto a muitos microrganismos e outros agentes pela primeira vez.
PROTOCOLOS DE VACINAÇÃO
A entidade internacional que estabelece diretrizes para a imunização de cães é a Associação Mundial de Veterinários de Pequenos Animais (WSAVA). O Grupo para as Diretrizes de Vacinação (VGG) da WSAVA desenvolve diretrizes para a vacinação de cães e gatos que são úteis para veterinários em todo o mundo.
Diretrizes para a vacinação de cães e gatos 2024 – compiladas pelo Grupo para as Diretrizes de Vacinação (VGG) da Associação Mundial de Veterinários de Pequenos Animais (WSAVA)
O QUE SÃO VACINAS
Produzidas a partir de bactérias ou vírus atenuados, são um método de imunização bastante seguro. Elas têm como função induzir o organismo a produzir sua própria defesa (anticorpos) e cada uma tem um período de ação. Os efeitos colaterais de vacina para cachorro existem, mas são raros. Os mais frequentes são febre, edema na região onde foi aplicada e sensação de desânimo.
COMO SURGIRAM AS VACINAS
A história começou no século XVIII com Edward Jenner, um médico britânico que fez a primeira vacina documentada em 1796. Jenner observou que as pessoas expostas à varíola bovina (uma forma mais branda de varíola) não desenvolviam varíola humana, uma doença grave e muitas vezes fatal. Com base nisso, ele inoculou um menino com pus retirado de lesões de uma ordenhadora infectada pela varíola bovina, e o menino ficou imune à varíola. Esse foi o nascimento do conceito de vacinação.
No século XIX, Louis Pasteur avançou no desenvolvimento de vacinas ao descobrir que o uso de patógenos enfraquecidos ou mortos poderia imunizar contra doenças. Pasteur criou vacinas contra doenças como a cólera aviária e o antraz, aplicando o princípio da imunização. Sua vacina contra a raiva, em 1885, foi um marco importante, pois salvou a vida de um garoto mordido por um cão raivoso.
VACINAS PARA CÃES: COMO FUNCIONAM
As vacinas são feitas para estimular o sistema imunológico do cão a reconhecer e combater patógenos, como vírus e bactérias, sem causar a doença. Elas são projetadas para estimular o sistema imunológico do cão a reconhecer e combater patógenos específicos, sem causar a doença.
Quando a vacina é administrada, o sistema imunológico do cão reconhece os antígenos como invasores e começa a produzir anticorpos. Esses anticorpos são proteínas que ajudam a neutralizar ou destruir os patógenos. Além de produzir anticorpos, o sistema imunológico também cria células de memória. Essas células permanecem no corpo do cão e “lembram” do patógeno. Se o cão for exposto ao patógeno real no futuro, seu sistema imunológico poderá responder rapidamente e de forma eficaz, prevenindo a doença a doença ou reduzindo sua gravidade.
Algumas vacinas requerem doses de reforço para manter a imunidade ao longo do tempo. Isso é especialmente importante para garantir que o cão continue protegido contra doenças comuns.
CLASSIFICAÇÃO DAS VACINAS
VACINAS ESSENCIAIS
Devem ser dadas para evitar doenças que podem ser fatais e doenças zoonóticas (que podem ser transmitidas para humanos). Como por exemplo a parvovirose, cinomose e raiva.
A vacina V8 protege contra a cinomose, parvovirose, adenovirose tipo 2, parainfluenza, hepatite infecciosa canina, coronavirose e dois tipos de leptospira (bactéria causadora da leptospirose). Já a V10 engloba todas da V8 e mais dois tipos de leptospira. A vacina contra a raiva é chamada antirrábica e comumente oferecida em campanhas municipais no Brasil.
VACINAS ELETIVAS
São as vacinas que devem ser ministradas conforme avaliação do médico veterinário, de acordo com o risco de exposição e estilo de vida do paciente.
As principais são a Leishmaniose (ela pode ser essencial em determinadas regiões e em certas condições), além da Giárdia e da Tosse dos canis.
Esta última doença é altamente contagiosa e causada por um complexo de bactérias (Bordetella bronchiseptica) e vírus, mas não é considerada grave — em geral, os animais se recuperam em até 15 dias. É transmitida pelas gotículas eliminadas na tosse e no espirro dos cães contaminados. Por isso, é muito indicada para animais que frequentam creches, escolinhas e hospedagens ou que participam de exposições ou provas esportivas caninas.
A vacina contra a giárdia é utilizada para prevenção: diminuição de cistos e consequentemente diminuição da contaminação do ambiente, o que significa diminuição da possibilidade de infectar novos animais ou reinfecção naqueles que já estiveram doentes. Caso mesmo vacinado o animal contraia a doença, apresentará sintomas mais brandos.
VACINAS OBRIGATÓRIAS
Por incrível que pareça, não existe legislação que obrigue você a vacinar seu cachorro. Talvez você tenha dificuldade em viajar junto do cãozinho, uma vez que é obrigatório apresentar a carteira com as vacinas em dia para viajar de avião. Pode ser também que ele não seja autorizado a frequentar creches e hospedagens.
A vacina contra a raiva é obrigatória em várias situações para garantir a saúde pública e prevenir a disseminação da doença. Aqui estão algumas ocasiões em que a vacinação contra a raiva é obrigatória:
Regulamentações locais: Algumas cidades e estados têm leis específicas que exigem a vacinação contra a raiva para todos os cães e gatos, independentemente de outras circunstâncias.
Viagens: Para viajar com cães, tanto dentro do país quanto internacionalmente, é necessário apresentar a carteira de vacinação atualizada, incluindo a vacina contra a raiva.
Campanhas de vacinação: Muitas cidades realizam campanhas anuais de vacinação antirrábica, onde a vacinação é obrigatória para todos os cães e gatos a partir de três meses de idade.
Frequentar locais públicos: Em algumas regiões, a vacinação contra a raiva é obrigatória para que os cães possam frequentar parques, creches, hotéis para pets e outros locais públicos.
VACINAS ÉTICAS
É aquela aplicada pelo médico veterinário, depois de uma consulta detalhada levando em consideração o estado de saúde do animal, bem como seu estilo de vida. Isso é importante porque a resposta esperada está relacionada à competência imunológica.
Além da procedência, a conservação e o manuseio das vacinas interferem na sua eficácia. Pessoalmente, só uso vacinas importadas, cuja resposta é mais enfática. Reforcei esse entendimento quando verifiquei que o serviço de fiscalização veterinário do aeroporto não aceitou vacina nacional.
A vacina pode não ser tão eficiente se o cachorro estiver subnutrido, sob muito estresse, com alguma doença em fase de incubação ou em terapia imunossupressora. É por isso que a vacinação deve acontecer somente após um exame clínico realizado por médico veterinário.
É possível comprar vacinas nacionais em agropecuárias e aplicar nos cães. Isso garante uma economia expressiva, pois custa um quarto ou um quinto de uma vacinação profissional. Mas, devido aos riscos elevados de ineficácia, não se aplica a quem crie cães de raça pura, principalmente os Shibas, verdadeiros tesouros culturais do Japão.
EVERMINAÇÃO PRÉVIA
Parasitas podem enfraquecer o sistema imunológico do cão, reduzindo a eficácia das vacinas. Ao eliminar os parasitas, o sistema imunológico pode responder de forma mais eficaz à vacinação. Muitos veterinários recomendam um protocolo de vermifugação antes da vacinação, com antecedência de 7 a 10 dias, para garantir que o cão esteja em boas condições de saúde e possa receber a vacina de forma segura e eficaz